Contos, textos, ensaios... Pedro Aruvai

sábado, 10 de maio de 2008

SONHO DE UM REVEILLON QUE NÃO ACONTECEU.


Naquele instante, o estouro da primeira champanhe, trouxe a Maria uma saudade. Até então era festa. O dia todo fora de muita correria, muito trabalho para se preparar tudo a tempo para as festividades da virada do ano, que não teve tempo para pensar exclusivamente numa pessoa.
(...)
Das mãos de Maria, a pedido de umas amigas suas, que queriam que ela estourasse uma champanhe, aceitou a brincadeira.
Estava linda. Uma das mulheres mais bela da noite. Ela que sempre fora uma moça encantadora, simpaticíssima, nessa noite estava superior a todas, radiante. Com ajuda de uma amiga, conseguiu por fim abrir a garrafa e foi nesse exato momento do estouro que Maria parou. Seus olhos pararam por um instante, um instante que pareceu-lhe um século, fixado num ponto onde parecia encontrar os olhos de Alfredo, que no momento não soube definir bem se eles choravam ou se sorriam.
(...)
Nesse momento no outro lado do Atlântico estava Alfredo, sozinho, em sua casa a esperar pelo menos um telefonema de Maria, queria pelo menos ouvir a sua voz, mesmo que distante, em outro continente, mas o telefone não tocava e as horas passavam depressa. Os ponteiros do relógio na parede parecia desejar logo se livrar do velho ano, penetrar logo o próximo ano, para marcar seus primeiros segundos, seus primeiros minutos e não parar mais.
(...)
Doía-lhe não está sozinho, distante da pessoa que amava, nesse momento tão festivo, porem doía-lhe mais saber onde estava Maria e com quem estava. Pensamentos que tentava desviar, tirá-los da cabeça, mas nesses momentos é impossível. Lá fora, a cidade inteira parecia que ia se acabar de tanta alegria. Às ruas pipocavam fogos de artifícios, gritos, abraços, cantos, pessoas passavam exaltadas, bebiam, comemoravam; era o final de mais um ano e o começo de outro, novos sonhos, novos planos, mas parecia que os sonhos e os planos de Alfredo talvez não viesse a ser concretizado nesse novo ano que estava começando.
(...)
Tivesse agora um celular e pudesse ir para um cantinho, onde pudesse ficar sozinha horas e horas no telefone a conversar com ele...
(...)
Logo cedo da manhã Alfredo foi acordado com umas batidas em sua porta. Pensou em não atender, não estava querendo receber ninguém. Pôs o ouvido a escutar e esperou bater à porta outra vez, não demorou a voltar a bater à porta. Quem seria ? Tão cedo da manhã, num dia feriado, alguem lhe acordando numa hora dessa ? Levantou-se devagar, chateado, ainda com sono, os olhos sem querer abrirem-se.
(...)
A outra vontade de Alfredo foi de pegá-la e puxá-la contra si e abraçá-la com tanto ardor, com tanta força, capaz de lhe machucar, com tanto desejo que sentia por ela e estava de lhe encontrar, de abraçá-la, de beijá-la, de ficar pertinho dela.
(...)
Se pudesse torna-se-ia único, como se a alma de um pudesse sair do corpo do outro e fosse habitar num único corpo, era isso que Alfredo pensava, de tanto amar Maria. Queria que ela ficasse ali guardada com ele para sempre, no seu próprio corpo, para quando um morresse, o outro também morresse, e juntos fossem levados a eternidade...
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Trechos do texto: sonho de um reveillon que não aconteceu.

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